Em pleno clima de euforia e epidemia mediática urge repensar o papel dos meios de comunicação social na nossa sociedade, dita democrática. Urge, no entanto, primeiro que tudo, reconduzir o nosso pensamento até ao próprio conceito de comunicação.
Dominique Wolton diz que é preciso salvar a comunicação. Descrevendo-a como um acto involuntário do homem, como respirar ou dormir, Wolton diz-nos que é exactamente nesse acto tão natural que reside o problema da comunicação, porque a comunicação atravessa a vida do homem de uma ponta à outra e é, por isso, muito preciosa. A comunicação é símbolo de liberdade -diz ele -de democracia, de abertura, de emancipação e de consumo, enfim, de modernidade.
Não há quem não comunique, nem quem não queira comunicar. É neste acto que o homem passa do individual para o colectivo, é aqui que surge como ser social. A comunicação é uma necessidade antropológica dos indivíduos enquanto membros de uma sociedade. A transformação de ser biológico para ser social depende, pois, da comunicação, na qual se estrutura o processo de socialização.
A comunicação é também um direito. Um direito que implica sempre o “outro”. Não basta falar, é preciso ser-se ouvido. Não basta, portanto, ter o direito à liberdade de expressão, se ao expressar-me ninguém ligar ao que eu digo.
É exactamente no receptor que a comunicação se torna mais forte hoje em dia. A emergência de meios de comunicação cada vez mais globais, como o caso da Internet, trouxe consigo a necessidade inerente de comunicar com o outro, a toda a hora, a todo o segundo. É por isso que a comunicação tem de ser salva: se por um lado não pode perder-se na emissão, por outro, tem de chegar intacta à recepção.
Será que cabe aos media o papel de salvaguardar esta comunicação massiva? Sabendo que o seu processo comunicativo não está livre de muitos condicionalismos externos (políticos, económicos, religiosos, etc) serão eles capaz de perpetuar esta missão?
Comunique.
Filipa Galrão
Finalista do curso de Comunicação Social e Cultural da Universidade Católica